Publicado Sábado, 28 Agosto, 2010 Por Ismael Benigno
A operação Vorax, que prendeu toda a cúpula da prefeitura coariense em maio de 2008, revelou que Adail Pinheiro e seu secretariado roubaram da cidade mais de R$ 100 milhões, e mostrou também que um punhado de magistrados do Tribunal de Justiça do Amazonas, além de secretários do governo estadual, tinham íntima relação com a quadrilha. Adail frequentava o gabinete do então governador Eduardo Braga (PMDB), hoje candidato ao Senado.
O vídeo acima foi feito e publicado no Youtube pelo cientista político coariense Daniel Maciel Gomes, e mostra o lançamento da candidatura do ex-prefeito da cidade, Adail Pinheiro, para deputado estadual pelo Amazonas. A festa popular foi realizada na noite do último dia 21 de agosto, e mostra que boa parte da população coariense pretende exportar, de sua Prefeitura para a Assembléia Legislativa do Amazonas, o prefeito mais enrolado da recente história da terra do gás natural e do petróleo.
O foguetório, as carreatas e os discursos inflamados de uma campanha política foram inventados para fazer a sociedade esquecer do que é importante. E o que é importante dominou as páginas policiais durante vários meses entre 2008 e 2009. Adail Pinheiro foi acusado pelo MPF de ter montado uma quadrilha que saqueou a cidade de Coari durante anos, numa verdadeira usina de fraudes em licitações.
A operação Vorax, que prendeu toda a cúpula da prefeitura coariense em maio de 2008, revelou que Adail Pinheiro e seu secretariado roubaram da cidade mais de R$ 100 milhões, e mostrou também que um punhado de magistrados do Tribunal de Justiça do Amazonas, além de secretários do governo estadual, tinham íntima relação com a quadrilha. Adail frequentava o gabinete do então governador Eduardo Braga (PMDB), hoje candidato ao Senado.
Ana Paula Braga, filha do secretário Robério Braga, fazia parte do grupo de magistrados que hoje é investigado pelo CNJ pela relação heterodoxa que mantinha com a cambada de Adail. José Melo, secretário de governo de Braga e hoje candidato a vice-governador de Omar Aziz (PMN), também foi flagrado em escutas telefônicas nas quais ficava clara a troca de favores e a intimidade da cúpula municipal coariense com a cúpula estadual amazonense.
Não à toa é Melo quem desfila, no vídeo, ao lado de Adail e Átila Lins pelas ruas de Coari. As escutas da Polícia Federal também revelaram a influência de Átila e de outros deputados federais amazonenses, em Brasília, sobre assuntos de interesse da quadrilha de Adail, que também é acusada de exploração sexual infantil (a famosa pedofilia) e até de assassinatos. Os sete volumes da investigação da PF chegaram às mãos da imprensa e mostraram a rede de corrupção e tráfico de influência que dominou Coari ao ponto da organização criminosa ter o apoio do próprio governo do Estado para retirar de Manaus quase R$ 200 milhões em repasses de ICMS para Coari.
Tais gravações mostram que, para isso, Adail e sua quadrilha contavam com a proteção de jornais, programas de tevê, revistas e programas de rádio da capital. Adail, através de Adriano Salan, organizou orgias em um motel de Manaus, para onde eram convidados juízes e desembargadores do TJAM. A troca de favores era intensa, e o trânsito do secretário de Adail dentro do tribunal findou mostrando que Manaus estava vendida à Justiça, não tinha como ganhar.
Bastou que a operação Vorax fosse desencadeada e que os magistrados fossem denunciados pela Prefeitura de Manaus ao CNJ, para que meses depois a capital amazonense visse a Justiça ser feita. O repasse do ICMS de Manaus para Coari era ilegal e foi derrubado. Adail foi preso, como seu vice-prefeito Rodrigo Alves e boa parte da quadrilha montada para assaltar os cofres da cidade. Há trechos das gravações que mostram negociatas até com material hospitalar, que não chegava à rede de saúde e comprometia o atendimento da população.
O volume de absurdos do caso de Coari é tão grande quanto a montanha de dinheiro desviada da Prefeitura. Adail continuou, mesmo depois de preso, frequentando o gabinete do governador do Amazonas, trocando figurinhas com o secretariado estadual.
Em seu blog, o cientista político coariense Daniel Maciel conta que Adail deve ser eleito com facilidade no município, e cita para isso as projeções de um controverso pesquisador e empresário de Manaus, mais conhecido pelas amizades do que pelos números. O guru nem precisava vestir seu turbante tamanho GG para adivinhar o que as imagens acima mostram. Se escapar do julgamento de sua impugnação baseada na lei Ficha Limpa, Adail estará livre para, junto do irmão de Átila Lins, Belarmino, e junto do amigão José Melo (caso sua chapa vença a eleição) declararem amor ao estado do Amazonas em sua posse na Assembléia Legislativa do Amazonas, no início de 2011.
Nos próximos dias, pretendo republicar as histórias que a operação Vorax revelou em 2008 e que andam abafadas pelo foguetório da campanha.
Não é a pretensão de mudar nada. Não é a imprensa, os blogs nem a Lei Ficha Limpa que devem expulsar quadrilhas de criminosos do poder.
É o povo. Se o povo lava suas mãos sobre seu próprio destino, azar o dele.
Fonte: blogs.d24am.com