Eleitos pelo voto direto de outros alunos em suas escolas da rede estadual de Educação, eles passaram a ter a consciência e o conhecimento necessários para experimentar a vida política
19 de Junho de 2011
Cesar Augustus Coelho/Jornal Acritica
Os jovens deputados do interior do Estado, em momento de descontração no alojamento da Secretaria de Estado da Educação (Bruno Kelly/Acritica)
A política é um instrumento essencial para as demandas e conquistas sociais. Essa é a outra visão de 24 estudantes que compõem o Parlamento Jovem e que antes viam esse campo com desconfiança. “Éramos alienados políticos”, afirmam.
Eleitos pelo voto direto de outros alunos em suas escolas da rede estadual de Educação, eles passaram a ter a consciência e o conhecimento necessários para experimentar a vida política, mesmo que em uma escala menor. Cheios de sonhos, como qualquer jovem, alguns dos novos parlamentares redirecionaram seus objetivos de vida para se adequar a um possível futuro na política amazonense.
Para a futura engenheira civil Sarah Jane Colares da Silva, 18, que preside o Parlamento Jovem, seu espírito de liderança e a vontade de mudar as coisas foram essenciais para sua eleição e ingresso entre os jovens deputados. “Sempre achei que eu tinha potencial para mudar as coisas e sei que tenho capacidade para isso. Fazer parte do Parlamento Jovem é uma experiência incrível, que me fez ver a política de forma diferente”, disse a aluna da Escola Estadual Francisco Albuquerque, no Centro de Manaus, que chegou a ser alertada por seus colegas de classe para “não se corromper”. “Infelizmente essa é a visão que, de modo geral, os jovens têm do cenário político”, lamentou a estudante.
Apaixonada por Matemática, Sarah é autora da proposta “Semana Estadual das Ciências Exatas da Rede Pública de Ensino”. Segundo ela, o objetivo é que alunos da rede pública tenham maior interesse por Matemática, Química e Física, após participarem de experimentos práticos. “É importante para os estudantes terem uma visão real daquilo que aprendem apenas na teoria em sala de aula”, defendeu ela.
Diego Pacheco Sobrinho, 22, estudante da Escola Estadual Ângelo Ramazzotti, já era chamado de “deputado” pelos próprios colegas de classe, antes mesmo de se tornar um, em virtude de sua paixão pela política. “Sempre gostei da política. É algo que está em minha veia. Quando minha escola foi selecionada para participar do projeto, todos na minha sala já olharam para mim”, comentou.
Filho de um feirante e de uma vendedora autônoma, o estudante é o mais velho integrante do Parlamento Jovem e ficou com a responsabilidade de abrir a primeira sessão plenária da atual legislatura. “Foi uma honra e uma emoção muito grande ter ficado ao lado do presidente da Assembleia Legislativa, que é o responsável pelo Poder Legislativo de nosso Estado”, disse, referindo-se ao deputado estadual Ricardo Nicolau (PRP).
Com o objetivo de se formar em História e de ter acesso ao Ensino Superior através do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), Diego aposta na participação do movimento estudantil como uma boa escola para sua futura carreira política.
“Penso que as lições que tivemos durante as duas semanas em que compomos o Parlamento Jovem são suficientes como reforço de uma base ideológica, onde a visão de mundo, da política e dos conceitos de ética nos transformaram completamente”. É o que destaca o jovem deputado autor da proposta de instituição do “Dia da Consciência Jovem” que, segundo ele, deve ser comemorado todo o dia 28 de março, “em virtude da morte do estudante carioca Edson Luiz, em 1968, que originou a passeata dos 100 mil contra o regime militar”.
Mudança no pensamento político
Para Karine Loran Silva dos Anjos, 18, da Escola Estadual Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Coari (a 363 quilômetros de Manaus), as aulas que recebeu durante as duas semanas em que atuou como Jovem Deputada foram uma experiência gratificante. “Eu era uma alienada política. Hoje, penso diferente, pois vejo como ela é importante para a sociedade”.
A proposta da futura administradora, ou gerente de Marketing, é a “Legalização de Venda Eletrônica Coletiva de Produtos e Serviços na Internet”, na mesma linha de seu “padrinho legislativo”, deputado Marcos Rotta (PMDB).
Tarcísio Ferreira, 16, da Escola Estadual Senador João Bosco Ramos de Lima, de Parintins (a 325 km de Manaus), sonha em ser médico cardiologista e diz que “o conceito de política nos ensina a ter um compromisso verdadeiro com a sociedade e suas causas”. O “afilhado legislativo” da deputada Conceição Sampaio (PP) tem como proposta a “Criação do Programa de Prevenção à Gravidez na Adolescência”.
‘Ex-deputado’ quer oportunidade
O ex-jovem deputado Rodrigo Furtado da Silva, 21, foi vice-presidente do Parlamento Jovem Nacional, em Brasília (DF), em 2009. Hoje, desempregado e sem oportunidades, critica o fato do Parlamento Jovem ser “apenas uma atividade educativa, que não cria oportunidades reais para o aprendizado profissionalizante dos estudantes”.
Como jovem parlamentar, aos 19 anos, se destacou na época com uma proposta de “Reaproveitamento de pó de madeira nas empresas”, que foi eleita como a representante do Amazonas no País.
Rodrigo acredita que o Parlamento Jovem poderia estender cursos para aqueles alunos que não tem condições de pagar seus estudos e que demonstram interesse e potencial. “Ainda não ingressei numa faculdade por dificuldades financeiras. Acho que a Escola do Parlamento poderia nos oferecer um curso de inglês e outro profissionalizante, para que pudéssemos ter a oportunidade de trabalhar e desenvolvermos nosso potencial no mercado de trabalho”, criticou ele.
Rotina cheia para aprender a legislar
O projeto Parlamento Jovem é feito em parceria com a Secretaria de Estado da Educação (Seduc), que seleciona as escolas anualmente. Ao todo, são 48 estudantes, sendo 24 titulares e 24 suplentes. Só os primeiros apresentam projetos.
Do total de jovens parlamentares titulares, 15 são de Manaus e nove são do interior. Entre estes, há estudantes dos municípios de Maués, Iranduba, Codajás, Coari, Parintins, Silves e Novo Airão. Durante duas semanas, os jovens participam de cursos que ensinam Conceitos de Política, Ética, Cidadania, além do Regimento Interno da ALE-AM, Constituição Federal, Estadual e Lei Orgânica de Manaus (Loman).
Com uma rotina pesada, eles participam de aulas diárias de 8h às 17h e ainda têm que apresentar dois projetos: um estadual e outro federal, que podem, ou não, tornar-se lei. Todas as despesas dos alunos, da capital e interior são custeados pela Escola do Legislativo e Seduc.
Para a diretora da Escola do Legislativo e uma das responsáveis pelo projeto Parlamento Jovem, Jaqueline Ferretti Monteiro, a experiência vivida pelos estudantes pode ser aplicada em várias áreas de suas vidas. Segundo ela, uma das grandes dificuldades que atrapalham os alunos a participarem é o acesso à capital.
Mesmo diante de algumas frustrações, o ex-parlamentar ingressou no movimento estudantil e hoje é vice-presidente da União Municipal dos Estudantes (Umes).
Projetos reforçam questões ambientais
Com foco no desenvolvimento sustentável da Amazônia e do Brasil como um todo, a preservação do meio ambiente foi a tônica principal dos projetos de lei apresentados pelos 24 deputados estaduais jovens na primeira reunião plenária do Parlamento Jovem, realizada na última terça-feira na ALE-AM.
Os parlamentares demonstraram grande preocupação com a destinação correta do lixo, fizeram uma ostensiva defesa dos processos de reciclagem dos resíduos sólidos e orgânicos e abordaram ainda questões sobre a importância das campanhas nacionais e internacionais de conscientização da população para preservar o planeta.
O deputado jovem Gustavo Henrique Rezende propôs que a educação ambiental seja instituída como disciplina do currículo escolar de todas as unidades da rede pública de ensino no Amazonas. Já Djerlyson Negreiros fez uma defesa radical da biodiversidade do planeta, propondo a criação do monitor do meio ambiente nas escolas estaduais, cujo cargo seria exercido pelos alunos mais indisciplinados. E a deputada Brenda Costa Martins defendeu o reaproveitamento de CDs que poderiam ser reciclados e utilizados, segundo ela, na fabricação de naves especiais, de chips, computadores, entre outros aparelhos eletroeletrônicos.