Encanta-me os sons desse rio negro como o baré;
Donde surge o Jaraquí pra comer frito com açaí.
Rio de ouro e de deuses, o rio de Coari,
buraco pequeno, que serve de abrigo para a beleza infinita.
Meu rio-estrada, das melhores que já andei, a única onde nadei.
Rio que gera a vida, revitaliza a alma e me faz perder o pensamento
em tanta beleza e inspiração.
Mergulho em seus encantos de botos rosa e tucuxi,
que metem medo no ribeirinho e nas “caboquinhas”,
que atribuem o filho inexplicável ao danado do rapaz de roupas alvas e
distinto da meia-noite.
Porque o rio dos deuses indígenas é mansinho, farto,
e nunca deixa faltar nada na vida do amazonense que escolheu a vida tranqüila, sem “busão” e poluição.
Quer mesmo é viver essa “leseira baré” que o calor trás,
o ventinho fresco e a rede atada entre as árvores.
Quer viver dos casos, acasos e causos,
sem a preocupação dessa gente de cidade grande,
que vive pra ter dinheiro e comprar, comprar e comprar o luxo.
Ô maninho, luxo aqui no mato é ter um ar puro pra respirar,
uma rede pra embalar, uma canoa pra pescar.
No lugar de piscina, um rio imenso pra mergulhar e esse sossego desmedido.
Bossa a gente faz quando abre a janela e é contemplado pela imensidão verde.
É conhecer os bichos de fato, pela experiência, e não pela internet.
É viver quase num estado natural Rousseauniano,
mas sem ser o lobo do outro homem que Hobbes falou.
É ter sempre o que comer na cuia,
não faltar peixe com farinha e uma macaxeira cozida de manhã,
é ter orgulho de descendência indígena,
ter os cabelos tal qual Iracema, negros como o Graúna.
Orgulhoso da cultura e esperto com os sugadores que aparecem de 4 em 4 anos,
porque caboclo não é leso não mano! Se faz.
Prazer é ser desse chão, desse rio, desse povo.
De ser um “Coaya-Cori”, fruto desse buraco pequeno quente que só,
mas que tem o melhor açaí, a tapioca, o bejú e a banana fritinha com café.
A Coari, princesinha do Solimões, do ouro negro, abençoada pelos deuses das tribos, pelos deuses gregos, latinos, católico apostólico romano, umbanda, e qualquer outro deus que exista.
Afinal, todos sempre são brasileiros e vivem em Coari.
Adrielly Granjeiro.