Após ser baleado na última sexta-feira (5), o prefeito de Coari comentou o ocorrido e também falou sobre a morte do prefeito Odair Geraldo, em 1995, da qual responde a acusação de assassinato
Ele
literalmente nasceu de novo. Baleado no pescoço em um atentado
ocorrido, na noite da última sexta-feira, o prefeito de Coari, Arnaldo
Mitouso (PMN), recebeu ontem, com exclusividade, a equipe de reportagem
de A CRÍTICA, para uma entrevista em que pode externar com mais
“tranquilidade” as impressões sobre o que lhe aconteceu. Ainda
assustado, ele confirmou não ter dúvida de que foi vítima de um crime de
pistolagem - modalidade que tem se tornado cada vez mais frequente no
Brasil (“em menor proporção no Amazonas”) por conta de motivações
políticas.
“Fui vítima de atitude
covarde. Até então, acreditava que tinha adversários políticos, hoje
vejo que tenho inimigos”, resumiu, se dizendo confiante no trabalho da
polícia na busca aos responsáveis pelo crime. Deitado em seu quarto, na
companhia de dois dos cinco filhos e do segurança Celidônio Sebastião
Aires da Silva, 52, de quem é amigo há 22 anos - e com quem estava no
momento do atentado -, Mitouso relembrou os tiros que sofreu em 1995,
quando da morte do então prefeito Odair Carlos Geraldo - crime do qual
foi acusado e apontado como autor, mas nunca comprovado. Falou de como
encontrou Coari, ao assumir em 2009, depois da cassação do prefeito e
vice-prefeitos -, e da disposição em concorrer à reeleição. “Não vou me
acovardar diante de uma atitude covarde”, garantiu ele.
O senhor pode descrever o que aconteceu na sexta-feira?
Cheguei
à tarde de Coari, por volta das 16h. Vim para casa e às 21h sai pra
jantar com Celidônio (Celidônio Aires, segurança pessoal). Estivemos no
Centro e ao retornar, por volta de 23h30, passando da entrada do
Aeroporto, e já próximo da entrada do Novo Israel, ouvi uma zoada que
imaginei poderia ser alguém jogando uma pedra ou que tenha batido por
trás do carro. Eram os primeiros tiros. Quando olhei e percebi o vidro
trincado, vi que era bala e que havia sentido um choque nas costas.
Passei a mão e vi sangue. Nesse momento, um carro passa na nossa frente
com alguém, que estava no banco de trás, atirando. Mesmo ferido,
Celidônio continuou dirigindo. Não dava pra ir ao pronto-socorro, porque
poderiam nos seguir. Viemos para casa e a sala ficou cheia de sangue.
Ligamos para a Polícia e tivemos atendimento.
Em
1995, próximo do Dia dos Pais, ocorreu o crime que vitimou o prefeito
Odair Carlos Geraldo. O senhor foi acusado. Hoje, passados 16 anos,
ocorre esse atentado. A polícia pode trabalhar com a hipótese de
vingança?
O que aconteceu
agora é totalmente diferente do que aconteceu no passado. Lá foi uma
questão mais centralizada. Não foi pistolagem.
Qual a diferença entre as situações?
Em
1995, estava como vereador e presidente da Câmara e fazia oposição ao
governo municipal, e muita gente não aceita esse tipo de comportamento.
Acha que todo parlamentar deve simplesmente bater palma para o
Executivo. Eu não entendo dessa forma, tanto que tenho os opositores em
Coari e acho que a oposição é necessária até para ajudar o governante a
ficar alerta e fiscalizar mais os recursos públicos. Naquela situação,
houve um confronto. Estávamos num local e fomos agredidos. Houve troca
de tiros e fui baleado também. Levei dois tiros, um deles também no
pescoço.
Dessa vez, houve uma emboscada, um modus operandi cada vez mais frequente no Brasil.
Uma atitude covarde. Até então pensava que só tinha adversários políticos. Agora tenho que afirmar que tenho inimigos políticos.
O senhor se arrepende de ter entrado para a política depois do que ocorreu?
Sempre
falei que se soubesse há vinte e poucos anos atrás que a política era
dessa forma eu talvez nunca tivesse entrado apesar do sonho de criança.
Eu era papa-comício. Ainda menino, lembro quando tinha comício, e eu
ficava ouvindo os discursos memoráveis de Joel Ferreira, Fábio Lucena e
meu querido amigo Evandro Carreira.
Pensa em desistir?
Não
posso desistir agora, por conta de ações covardes como essa. Foi uma
luta muito grande para ganhar as eleições em Coari. Eu tive carro
queimado, tive amigos presos, ganhamos com muita força e determinação.
Tenho certeza que não conseguimos desenvolver o trabalho que quero para o
município.
Como o senhor encontrou Coari?
Encontramos
o município numa situação muito ruim, com muitas dívidas e o mar de
lama de corrupção e pedofilia. Enfim, o município estava com muitas
dificuldades e agora estamos restabelecendo a imagem da cidade com os
trabalhos que temos realizado, tanto na zona rural quanto na cidade.
Melhoramos na questão da saúde. Quando assumimos, as ruas estavam
tomadas de lixo, sem asfalto, eram só buracos. As 11 unidades públicas
de saúde estavam fechadas. Só funcionavam urgência e emergência do
hospital. Retomamos o funcionamento de todos os postos, já inauguramos o
CAPs (Centro de Apoio Psicosocial), que cuida das pessoas com
transtornos mentais, e implantamos, também, a medicina tropical.
O projeto político da reeleição está mantido?
Mantemos.
E, como eu disse, não poderia por conta de uma situação covarde dessa,
eu mesmo me acovardar. Nós vamos à reeleição, se Deus quiser.
O senhor acredita em milagre?
Acredito
muito em milagres porque tenho visto acontecerem alguns comigo mesmo.
Esse é mais um. O médico que me atendeu, depois de ver a posição do
tiro, disse que todo dia 6 eu deveria festejar meu aniversário, porque
nasci de novo. Acredito em milagre e não tenho dúvida nenhuma de que
estou vivo por conta das orações e rezas, que marcaram a semana de
aniversário da cidade, quando reunimos evangélicos e católicos. Todos
foram às ruas. Foi uma semana de bênçãos.
Pretende reforçar a segurança?
Sempre
fui cobrado por amigos e família para ter mais cuidado com segurança.
Não posso negar que relaxava um pouco. Nunca tive costume de andar com
seguranças, e isso me causava um certo incômodo, mas devido a atitudes
como essa é necessário que a gente procure ter mais cuidado. O atentado
me fez ver que realmente tem pessoas capazes desse tipo de
comportamento.
O senhor acredita que a Polícia pode chegar ao responsável pelo atentado?
Acho que a Polícia do nosso Estado tem condições, sim, de desvendar essa situação.
Quando o senhor volta a Coari?
Estou
dependendo da alta médica e de prestar depoimento na polícia, marcado
para hoje (domingo) ou amanhã (hoje). Vou ficar aqui à disposição da
Polícia e dos médicos. Tendo alta, retorno para o município. Tenho
amigos lá que já estão dando informações precisas nossas. Tem muitas
pessoas lá orando e rezando. Não queremos aproveitar o momento para
deixar todo mundo tenso. Queremos tranquilizar a todos. Graças a Deus,
eu acredito que o pior já passou. Estou com dificuldade pra me
movimentar, até ontem estava sangrando, veio um médico fez um tratamento
e hoje está dolorido mas não houve sangramento. Logo, logo pretendo
retornar ao município.
Tiros seriam de pistola 9 milímetros
Os
tiros que atingiram a picape Hilux do prefeito Arnaldo Mitouso teriam
sido disparados de uma pistola 9 milímetros, de uso exclusivo das Forças
Armadas. A revelação é de fontes da polícia que estão investigando o
crime. A perícia realizada no veículo revelou também que não foram sete e
sim nove tiros disparados na direção do banco do carona em que estava o
prefeito. Desde o dia do ocorrido, uma viatura da Rondas Ostensivas
Cândido Mariano (Rocam) mantém escolta em frente à casa do prefeito,
localizada num condomínio na Torquato Tapajós.
Já
se encontram em poder da polícia as imagens das câmeras de segurança do
Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), que mostram a
movimentação tanto do momento em que o veículo do prefeito era atacado,
quanto dos momentos anteriores em que o carro passou a ser seguido. A
suspeita é de que o veículo seja um Pálio, de cor azul escura.
O
titular da Secretaria Executiva de Inteligência, da Polícia Civil,
Thomaz Vasconcelos, informou ontem que um trabalho conjunto entre as
polícias está sendo desenvolvido na tentativa de chegar até os
responsáveis pelo atentado. O delegado-geral da Polícia Civil, Mário
César Nunes, não quis adiantar detalhes das investigações, mas assegurou
que os trabalhos estão sendo desenvolvidos em conjunto também pela 2ª
Sessão (Inteligência) da Polícia Militar do Amazonas e Divisão de
Repressão ao Crime Organizado (DRCO), da Polícia Civil.
Segurança em Coari preocupa
O
prefeito Arnaldo Mitouso informou ontem que já vinha tentado, há algum
tempo, contato com o governador do Estado Omar Aziz para tratar da
questão da segurança no Município de Coari. “A cidade vem enfrentando
uma onda de assaltos, quase que todos os dias, e já tinha procurado
conversar com o governador, mas talvez por conta dos inúmeros
compromissos dele não tenha tido essa oportunidade ainda”, afirmou o
prefeito.
Mitouso afirmou que
recentemente reuniu vários segmentos da sociedade para discutir
alternativas de solução para o problema. “Já estava tudo pronto pra
trazer essa reivindicação ao governador. Tomei, inclusive, a atitude de
reformar o ginásio para entregar à Polícia Militar, considerando que, no
governo passado, a polícia estava num cubículo sem nenhum estímulo para
trabalhar”, lembrou, acrescentando que pretende agora uma reunião com o
governador para pedir dele que haja uma investigação aprofundada para
desvendar a autoria e os possíveis mandantes do atentado.
“Eu
estou contando a história aqui, mas, de repente, outros não podem ter a
mesma sorte que eu tive”, afirmou, comentando que condenou
veementemente esse tipo de atitude. A bala que atingiu Mitouso
ultrapassou o pescoço dele. De acordo com os médicos do Hospital João
Lúcio, para onde foi levado, por alguns milímetros, o projétil não
atingiu a veia aorta do prefeito, levando-o à morte. A bala também
poderia tê-lo deixado paralítico.
Fonte: ACritica
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